Entrevista com Thomas Schröder, da Embaixada Alemã no Brasil

maio 20 • Notícias • 2263 Views • Comentários desativados em Entrevista com Thomas Schröder, da Embaixada Alemã no Brasil

O papel de liderança do Brasil na América Latina torna o país um parceiro em potencial para países como a Alemanha. A afirmação é de Thomas Schröder, Conselheiro para Assuntos Científicos e Intercâmbio Acadêmico da Embaixada Alemã no Brasil. Em entrevista à Divisão de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), Thomas contou sobre a cooperação em ciência, tecnologia e inovação entre a Alemanha e o Brasil e detalhou casos de sucesso entre os dois países.

A cooperação na área científica entre o Brasil e a Alemanha existe há mais de 40 anos e está baseada no Acordo-Quadro sobre Cooperação Científica e Tecnológica, que foi atualizado em 1996. Outra iniciativa de sucesso entre os dois países é o projeto Torre Alta da Amazônia (Atto, na sigla em inglês). O projeto tem o objetivo de monitorar e estudar o clima da região, pelo período de 20 a 30 anos, a partir da coleta de dados sobre os processos de troca e transporte de gases entre a floresta e a atmosfera.

O observatório deve medir com precisão fluxos de água, dióxido de carbono (CO²) e calor, a fim de analisar o impacto do ciclo de absorção e liberação de substâncias em um raio de 300 quilômetros. Quatro torres de 80 metros auxiliarão a estrutura principal. Para isso, a estrutura de 325m deve ficar pronta em breve, a partir da parceria entre Brasil e Alemanha.

Na entrevista, Thomas explica sobre esses e outros assuntos. Confira:

O senhor poderia explicar sobre as atividades de cooperação internacional em Ciência, Tecnologia e Inovação entre a Alemanha e Brasil?

A cooperação em Ciência e Tecnologia entre os dois países é muito boa. Há por volta 1.000 projetos de diferentes tamanhos e profundidade, um número significativo. Eu diria que todas as maiores organizações alemãs em ciência estão ativas aqui no Brasil, com parceiros, trabalhando em todas as áreas de corporação científica.

Há muitos casos de sucesso. Por exemplo, em dezembro de 2014, recebemos a visita de um diretor do Instituto Fraunhofer da Alemanha. Eles explicaram que o novo projeto que eles estavam promovendo em conjunto com os brasileiros é uma corporação na área de tecnologia de empacotamento. É um projeto bastante detalhado e profundo. Ambos desenvolverão um novo produto, uma nova tecnologia para aumentar e melhorar o empacotamento.

Há também o projeto PROPAL, que foca a alta tecnologia científica. No passado, nós tínhamos muitas vezes projetos que apoiavam um pouco o Brasil no campo de mudanças globais, uso da terra e da água no Amazonas, esse tipo de ação. Entretanto, mais e mais estamos engajados em projetos com o Brasil nos quais podemos trabalhar face a face.

Em sua opinião, o que é necessário para melhorar esta cooperação, e especificamente, o que o governo e as empresas podem implementar para melhorar esta cooperação?

Basicamente, eu diria que a cooperação já é muito boa, e o espaço para melhorias não é mais tão grande. Nós temos tentado todas as maneiras, mas estamos nos focando agora em novas áreas. Vou dar um exemplo: os alemães construíram uma casa com inovação e ciência alemã em São Paulo. Nessa casa existe um grupo de organizações alemãs de ciência. Eles estão trabalhando permanentemente em todas as áreas científicas brasileiras. Então eu acho que agora é o tempo no qual o governo brasileiro pode atuar e temos feitos isso juntos.

A questão agora é como podemos focar em projetos para o futuro – isso é muito importante e uma das áreas com certeza será a de mudanças climáticas. Sobre a questão da fome, o Brasil tem um papel importante, sendo um país com grande produção de alimentos. Outras áreas são as corporações de ensino superior. Agora temos mais de 400 universidades alemãs tendo parceiros aqui no Brasil. Nem todas têm bons e grandes projetos, mas a maioria. Tenho visto muito projetos ‘de volta às raízes’, realizados entre cientistas das universidades de São Paulo e de universidades de Stuttgart, na Alemanha, isso foi muito impressionante.

Penso que não há muito que fazer para melhorar isso, porque já está bastante bom. Mas estamos trabalhando permanentemente a fim de expandir em determinadas áreas. Por exemplo, agora mesmo, os governos brasileiro e alemão estão mais e mais focados em bioeconomia. “Rare Earth” é um tópico muito importante para nós, no qual os brasileiros desempenham um importante papel. Estamos investindo fundo na nossa cooperação e a caminho de realizá-lo.

Qual é o papel da cooperação internacional em Ciência, Tecnologia e Inovação para resolver problemas como as mudanças climáticas e a fome?

Alguns problemas, como as mudanças climáticas, não podem ser resolvidos individualmente. Alemanha é um país pequeno em algum lugar no meio da Europa. Brasil é um grande país na América do Sul, ainda assim os brasileiros não podem resolver o problema por eles mesmos, temos que resolver juntos, isso está claro. Ebola, por exemplo, é um tema de grande proporção entre muitas outras questões. Então, não é possível que somente uma nação possa resolver esse tipo de assunto. Algumas vezes você precisa de enormes e equipamentos caros para fazer uma determinada pesquisa. Então, também nesse caso, as nações deveriam trabalhar mais e mais juntas. E, geralmente, e eu diria de alguma maneira, a ciência é internacional, o conhecimento é internacional, cada vez mais.

Na Alemanha, há quatro anos, nós começamos com estratégias para internacionalizar nossa pesquisa científica, porque estávamos convencidos que, no futuro, precisaríamos trabalhar juntos com o melhor que o mundo pudesse oferecer em questões específicas. Onde podemos achá-las? Podemos achá-las no Brasil, em Tóquio, em Washington, e também na Rússia. Então, devemos ver onde estão os melhores grupos de pesquisadores e em quais países. Devemos trabalhar junto com essas pessoas.

O IBICT tem um website para publicar informações sobre suas atividades de cooperação internacional, o CINT. A União Europeia, por exemplo, tem também um website que é dedicado à cooperação internacional. Há várias instituições que estão ativas nesta área. O senhor poderia comentar sobre a importância da disseminação da informação para a promoção da cooperação internacional?

Como eu disse anteriormente, a ciência hoje em dia é internacional, e, realmente, não se pode trabalhar no seu próprio laboratório, de uma maneira tranquila como 200 anos atrás. Hoje devemos estar conectados com colegas em outros países. A disseminação é muito importante, ou então você não saberia em que seus colegas estariam trabalhando. Porque quanto mais cedo você descobrir algo, você aprenderá sobre aquilo, definindo as áreas nas quais irá complementar o seu trabalho. Então, eu trabalho nessa direção, você trabalha naquela direção, e ao final nos encontramos, discutimos e encontramos uma solução comum, é uma simples possibilidade. Disseminação e publicação são atividades muito importantes.

E no topo disso tudo, hoje em dia, pelo menos na Alemanha e penso mais e mais no Brasil, a reputação de um cientista é também contada pelo número de suas publicações, pela qualidade de suas publicações. Então, se você não publica em algum periódico científico ou em uma base de informação na internet, como temos aqui, você não pode obter o reconhecimento que você precisa como um cientista.

Isso significa que a Ciência da Informação é a chave para a aceitação dentro da sociedade científica. As pessoas querem saber porque o governo está investindo dinheiro e em quais áreas. Além do mais, as pessoas têm direito porque pagam impostos e o governo deve sempre informar.

Alemanha e Brasil, estamos os dois juntos no projeto da Torre Alta da Amazônia, que é um enorme projeto com muito dinheiro investido. Essa torre terá mais de 240 metros de altura. Com essa torre podem ser medidas certas reações do ar e a atmosfera na área do Amazonas. Daquela medida é possível calcular também o modelo climático e a informação que pode ser obtida de lá se torna mais complexa. Isso é um bom exemplo de cooperação.

O senhor poderia comentar sobre as ações realizadas entre Brasil e Alemanha no âmbito do programa Ciência sem Fronteiras?

Somente na Alemanha, nós temos quase 10.000 estudantes aceitos, vindos de projetos científicos brasileiros para estudar por uns meses ou anos dependendo do projeto, o que é um grande número. Penso que é muito importante para os jovens brasileiros irem enquanto eles estão estudando e aprenderem em outro país, por alguns meses, para enxergar o mundo de um diferente ponto de vista. Neste sentido, o Brasil fez um grande esforço. Porque essas pessoas voltarão ao Brasil e começarão a trabalhar como cientistas ou como um prefeito numa cidade, ou como governador, e terão essa experiência internacional.

O vídeo da entrevista (em versão editada) está disponível no Youtube.

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