Entrevista com Cecília Leite, diretora do IBICT

jul 8 • Notícias • 1841 Views • Comentários desativados em Entrevista com Cecília Leite, diretora do IBICT

Doutora e mestre em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UnB), e graduada em Letras também pela UnB, Cecília Leite Oliveira, diretora do Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e Tecnologia (IBICT), possui experiência nas áreas da ciência da informação, inclusão digital, gestão da informação, inclusão social, gestão do conhecimento e inovação.

A diretora do IBICT atua há vários anos no uso das novas tecnologias para solução informacional nos diversos campos de atuação da ciência da informação. Em 2002, na pesquisa de Doutorado, desenvolveu uma metodologia de inclusão digital para a inclusão social (Escola Digital Integrada – EDI) – o primeiro trabalho acadêmico da Universidade de Brasília que se transformou em norma, a Lei 3275 do Governo do Distrito Federal, utilizada no ensino público, que engloba uma metodologia reconhecida internacionalmente e premiada.

Em entrevista, a diretora conta sobre a atuação do IBICT e as ações e planos para a internacionalização do Instituto.

Qual o papel do IBICT nas atividades de coleta, organização, sistematização e disseminação de informações?

O IBICT nasceu há sessenta anos, em 1954, como Instituto Brasileiro de Documentação e Bibliografia, IBBD, porque, naquele momento, o mundo estava começando a se preocupar com a bibliografia controlada das diversas áreas do conhecimento em função da grande massa de informação que a humanidade conseguiu coletar, especialmente depois das duas grandes guerras. E o Brasil foi vanguardista nisso, pois foi um dos primeiros países, junto com a França, e depois a Rússia, a criar um instituto para isso.

Depois, em 1976, em função da revolução tecnológica e dos avanços da informação, o IBBD se transforma em IBICT, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, e continua trabalhando na organização e na disseminação seletiva da informação, enfim, em como se organiza tudo isso. Eu costumo dizer que, na verdade, o trabalho do IBICT remonta o de Alexandria, quando existiam quinhentos mil rolos de papiro e ninguém encontrava nada ali. Um grande bibliotecário da época foi quem organizou tudo isso, e Alexandria passou a ser o grande centro cultural de formação e produção de conhecimento daquela época.

Hoje, nós temos, por meio da internet, muito mais do que quinhentos mil documentos. Nós temos bilhões de documentos que precisam ser organizados e disseminados de uma maneira correta para que possam chegar àqueles que realmente necessitam. Então o trabalho do IBICT passou a ser ainda mais importante – ele continua sendo vanguardista nisso. O IBICT continua não só organizando e disseminando, mas integrando sistemas, fazendo mineração de informação e gerando novos conhecimentos em cima daqueles que já existem.

Então, nesse sentido, sem dúvida alguma, ele precisava estar à frente do seu tempo, e a globalização é uma realidade. Com isso, vem a necessidade da internacionalização do IBICT de da integração com os outros órgãos e institutos e, enfim, universidades de outros países que, como nós, estão também trabalhando com essa questão da informação, de como disseminar, e de como fazer essa nova geografia, que não é mais física, mas é digital. E nós estamos, dentro dessa geografia, em uma situação muito bem colocada. Nesse sentido, a cooperação internacional é fundamental para esse trabalho.

Quais as ações realizadas pelo IBICT na área de cooperação internacional?

Entre várias ações, o IBICT desenvolve o Cint, que é esse portal para o qual estamos trabalhando neste momento, para divulgar por meio dele ações não apenas do IBICT, mas também dos seus parceiros, além de notícias e informações sobre cooperação internacional em ciência, tecnologia e inovação. Para isso, estamos trabalhando em um projeto bastante importante, que é o Mapa da Competência, que possibilita a identificação de onde estão as competências de várias instituições nas diversas áreas, de forma globalizada. O Mapa permite que instituições brasileiras possam ser vistas por aquelas que estão lá fora, de modo a trocar informações, aprendizados e competências. E o Brasil ainda está deficitário nessa área. Nesse sentido, cabe ao IBICT preencher essa lacuna.

O IBICT também faz parte do consórcio Enterprise Europe Network, que é um instrumento importante para a ampliação da cooperação internacional em pesquisa e inovação, pois facilita, por meio dos serviços prestados pelo IBICT, a interlocução entre pesquisadores. Além disso, a ENN atua na divulgação de oportunidades para a pesquisa colaborativa.

Agora estamos também voltados para o Mercosul, e nós estamos juntos com o MCTI [Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação] muito afinados a partir de uma integração a partir da informação com os diversos países que formam o Mercosul.

Então, em resumo, o IBICT está bastante envolvido com a questão internacional. Até porque o Instituto tem a área de ensino e pesquisa, que conseguiu alcançar a nota cinco na avaliação da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]. E para alcançarmos boas avaliações o IBICT necessita da internacionalização do trabalho que faz em nível de ensino e de pesquisa. Estamos estreitando laços com outros institutos e universidades estrangeiras, trazendo professores de fora, levando os nossos para lá, intensificando essa relação para que a gente possa cobrir também esse ponto que é muito importante para o nosso reconhecimento através do próprio governo brasileiro via MEC [Ministério da Educação] e Capes.

Qual a importância da informação na nova era na qual o IBICT faz parte?

A informação é algo que chega antes do conhecimento, que gera conhecimento. E, portanto, o IBICT já nasceu nessa ideia de vanguarda, e, com as novas tecnologias de comunicação e informação, temos que continuar esse processo. Isso significa estar junto da comunidade brasileira, mas também integrado à comunidade internacional. E é muito importante porque agora é que o Brasil tem despertado, especialmente o Governo brasileiro, para a importância do IBICT.

O IBICT está desenvolvendo projetos na Casa Civil, com vários ministérios e com várias instituições internacionais porque a informação começou a ser vista e entendida como um bem maior. O capital intelectual passou a ser o grande ganho que você pode ter em uma nação, muito mais do que o capital financeiro. A informação é importantíssima nesse processo. Mas, acima de tudo, é o capital intelectual que move o mundo, que move o conhecimento e isso é tão forte que, independente da formação técnica que alguém possa ter, se ele tiver um grande conhecimento em uma determinada área, enfim, muita habilidade e competência, até a certificação passa a ser menos importante que o próprio conhecimento.

A questão da informação para o IBICT é muito importante porque é a nossa praia, nós nascemos para isso, vivemos para isso e queremos que este seja um momento em que a gente possa realmente ter um grande reconhecimento porque nós estamos vivendo a sociedade da informação, a era da informação, e nada mais próprio para isso do que um instituto de informação, como é o nosso caso.

O que pode ser feito para ampliar e incrementar o trabalho realizado pelo IBICT?

Talvez a gente reforçar um pouco essa importância do Instituto para o próprio contexto do desenvolvimento brasileiro. Na verdade, o IBICT é um instituto que perpassa todas as áreas. Então, nós trabalhamos com informação para a saúde, mas não somos médicos; nós trabalhamos com informação para as (os) APLs (Arranjos Produtivos Locais), especialmente a mineral, e nós não somos nem mineradores e muito menos temos expertise nessa área. Mas com a expertise que o IBICT tem em informação, com o conhecimento e as habilidades que nós desenvolvemos nesse período de sessenta anos, nós somos capazes de contribuir com a saúde, a mineração, a educação e a economia. Porque, na verdade, a infraestrutura informacional é que possibilita o desenvolvimento das áreas nos seus mais diversos segmentos.

O conhecimento é uno, a gente segmenta por uma questão didática porque não temos a capacidade de trabalhar com todos ao mesmo tempo. Mas a informação nos dá possibilidade de passear por todos eles e de contribuir com essa infraestrutura.

Por exemplo, um dos grandes problemas da educação brasileira é a falta de estrutura informacional. Nós não temos bibliotecas escolares, bibliotecas públicas. Temos boas bibliotecas especializadas e universitárias, mas é essa falta de infraestrutura que dificulta o desenvolvimento da educação básica no Brasil.

Então, consideramos o IBICT um instituto extremamente importante porque ele perpassa tudo isso. Ele é capaz de contribuir para a educação básica neste país, porque ele já contribui com a educação superior, com pós-graduação, até com o pós-doutorado que nós temos no Rio de Janeiro. É uma possibilidade de aprendermos muito, de crescermos muito, nessa parceria com cada área do conhecimento que a gente desenvolve algum projeto, e agora de uma forma globalizada com o próprio mundo.

A entrevista está disponível (em versão editada) em vídeo. Clique aqui para acessar.

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