Por mais mulheres na ciência

maio 31 • Notícias • 1352 Views • Comentários desativados em Por mais mulheres na ciência

“Era um lindo dia no Observatório de Cerro Tololo [no Chile]. Então começou a ficar cada vez mais escuro, o sol se pôs e fomos ao domo [observatório astronômico]. Fizemos diversas observações e, em uma delas, vi o sinal distintivo de algo muito estranho. Eu procurei meu orientador na época e ele disse: ‘Não, você fez algo errado. Você tem que fazer tudo de novo. Você fez algum processo de forma errada’. Eu fiz tudo novamente. O sinal também estava lá. Então eu disse: ‘Não, é verdade, é verdade!’. Aquele era o sinal distintivo de gás em rotação em alta velocidade: cinco mil quilômetros por segundo. Rapidamente, fiz os cálculos e disse: “Uau, é um buraco negro supermassivo, só pode ser um buraco negro supermassivo!’”.

As palavras de Thaisa Bergmann revelam a descoberta que contribuiu para que ela fosse uma das cinco laureadas internacionais com o prêmio For Women in Science 2015. Representando a América Latina, Thaisa foi homenageada pelo trabalho que levou ao entendimento de como buracos negros maciços se formam nos centros das galáxias. Suas descobertas são essenciais para o conhecimento sobre este fenômeno que, como muitas pessoas acreditam, poderia conter o segredo de uma das questões mais misteriosas da história da humanidade: como o universo se formou.

“Dediquei minha científica para entender os buracos negros. O universo é tão grande e nós somos apenas um grãozinho de poeira. Nesses momentos é que nós realmente nos damos conta de que somos muito pequenos no universo”, conta Thaisa, que é professora associada do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, chefe do Grupo de Pesquisa em Astrofísica, e graduada, mestre e doutora em física.

Primeiro programa dedicado a mulheres cientistas no mundo, o L’Oréal-UNESCO For Women in Science foi fundado em 1998, na convicção de que o mundo precisa de ciência e a ciência precisa de mulheres. Realizado desde 2006 no Brasil, o prêmio já contemplou diversas linhas de pesquisa, nas categorias de Ciências Biomédicas, Biológicas e da Saúde; Ciências Físicas; Ciências Matemáticas; e Ciências Químicas, reconhecendo 68 cientistas brasileiras pela relevância dos seus trabalhos e distribuindo aproximadamente R$ 3.5 milhões em bolsas-auxílio. Em 2015, mais de 400 pesquisas de todo o país foram inscritas.

“O prêmio tem duas vertentes. Uma delas é estimular as mulheres a continuarem o trabalho com a ciência. A outra, tão importante quanto a primeira, é reconhecer o trabalho dessas mulheres na ciência”, explica Ary Mergulhão, coordenador de Ciências Naturais da Unesco, área que é responsável pelas temáticas de meio ambiente, ciência, tecnologia e inovação da instituição.

Ary explica que é preciso pensar em instrumentos para o empoderamento das mulheres no sistema nacional de ciência e tecnologia e internacionalmente também. “Um pesquisador não atua apenas dentro dos laboratórios, deve haver outros horizontes. Por exemplo, poucas mulheres estão na gestão do sistema. É importante que essas pesquisadoras tenham seu espaço na pesquisa e na participação plena no sistema de ciência e tecnologia nacional. Isso vale para comando em universidades e participação em agências”, afirma Ary.

Nesse sentido, Thaisa Bergmann recomenda o investimento desde a infância na formação das crianças e adolescentes. “Perdemos a oportunidade de muitas meninas conhecerem o mundo da ciência desde crianças. São necessários mais investimentos e políticas públicas específicas. Iniciativas como o Prêmio são muito importantes. Conheço outras iniciativas positivas, tais como projeto Meninas na Ciência [Leia matéria sobre o projeto clicando aqui]. Precisamos de mais ações afirmativas e políticas públicas para a participação das mulheres na ciência”, afirma Thaisa.

Para conhecer mais sobre o Prêmio Mulheres na Ciência, clique aqui.

Foto: Divulgação Prêmio Mulheres na Ciência

Divisão de Relações Internacionais do Ibict, com informações do Prêmio Mulheres na Ciência

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