Especial Mulheres na Ciência: projeto estimula a participação de jovens meninas nas áreas de C&T

maio 30 • Notícias • 4704 Views • Comentários desativados em Especial Mulheres na Ciência: projeto estimula a participação de jovens meninas nas áreas de C&T

Atrair meninas para as carreiras de ciência e tecnologia e estimular mulheres que já escolheram essas áreas a investirem na carreira e se tornarem agentes de desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. Esses são alguns dos objetivos do projeto Meninas na Ciência. A iniciativa busca trilhar, a partir da formação de alunas do ensino médio e da graduação, a difusão da ciência e da tecnologia por meio da astronomia, da física e da robótica em escolas públicas. O projeto começou no final do ano 2013 e surgiu após a percepção da forte segregação dentro das áreas de Ciência e Tecnologia (C&T).

“Apesar de as mulheres serem mais numerosas na finalização do ensino médio e, também, a maioria das formandas no país, ainda há poucas profissionais do sexo feminino nas áreas de C&T”, observa a coordenadora do projeto, Carolina Brito. A coordenadora cita dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que aponta que há aproximadamente 30% de mulheres nos cursos de graduação em física no país.

O percentual diminui para 20% na pós-graduação (mestrado e doutorado), e como professoras universitárias, apenas 15%. “Podemos olhar um pouco mais em detalhes e concluiremos que as mulheres são apenas 5% das pesquisadoras 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)”, observa a coordenadora.

Graduada, mestre e doutora em física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2007), com sanduíche no Comissariat à l’Énergie Atomique, Carolina possui dois pós-doutorados – o primeiro na Commissariat à l’Énergie Atomique (França) e o segundo na Universidade de Leiden (Países Baixos). Para ela, o país sofre com a falta de profissionais da área de C&T. A coordenadora comenta que o total de pessoas (independentemente do gênero) que se formam em cursos relacionados à C&T não chega a somar 16% no Brasil. “O país possui um preocupante déficit em carreiras relacionadas à C&T, justamente áreas essenciais para o desenvolvimento de qualquer nação”, afirma ela.

Mesmo nessa situação, segundo dados da PEA (População Economicamente Ativa – medição realizada para averiguar o desempenho dos habitantes de um país na economia), nas últimas décadas houve aumento significativo na escolaridade feminina. Comparativamente aos homens, no final dos anos 1990, as mulheres apresentam maior grau de instrução: em média, um ano a mais de estudo. A taxa de atividade feminina cresceu cerca de 3 pontos percentuais nos anos 1950, passando de 13,4%, em 1950 para 16,5%, em 1960; e 2 pontos percentuais nos anos 1960, passando de 16,5%, em 1960, para 18,1%, em 1970. Ambos os gêneros aumentaram sua escolaridade, mas a população feminina experimentou avanço mais significativo.

Outro fato importante revelado pela PEA é a tendência à feminilização na área de C&T, principalmente no setor público, apesar de elas ainda estarem em menor número. Vale ressaltar que 90% dos pesquisadores(as) doutores(as) trabalham em instituições públicas: sejam elas escolas, universidades ou institutos de pesquisa. Na área de ciência e tecnologia, os homens são mais contratados pelo setor privado, cenário que o Brasil enxerga há tempos e que vai de encontro a várias circunstâncias vividas pelas mulheres, como maternidade, dupla jornada e desigualdade de gêneros. Há maior tolerância com essa questão no setor público. Também há que se considerar que o critério de ingresso no serviço público, por estar baseado na prestação de disputados concursos, exige preparação intensa prévia, algo que as mulheres têm mostrado disposição para enfrentar.

O governo vem buscando diminuir a disparidade de gêneros na área de C&T e está trabalhando em ações em prol do crescimento da participação feminina nessas áreas. Um dos atos do governo foi a criação do programa Mulheres na Ciência, com ações para promoção da paridade e de combate à desigualdade entre homens e mulheres no ambiente de pesquisa, além da ampliação da participação feminina na produção científica e tecnológica do Brasil.

Transformação de cenários: As mulheres e o mundo da ciência

A coordenadora do projeto Meninas na Ciência reitera que está havendo uma mudança em relação à presença das mulheres na ciência, mencionando o atual cenário no qual está inserida. “No Instituto de Física da UFRGS, as mulheres têm posições de destaque. Por exemplo, a diretora, a vice-diretora e a chefe de departamento são mulheres. Há também várias mulheres que são reconhecidas como ótimas pesquisadoras e professoras e que vêm ganhando prêmios e sendo reconhecidas na área de C&T. A julgar por estes exemplos, eu diria que as mulheres têm uma atuação de destaque, pois, apesar de sermos minoria, nós acessamos postos de decisão”, diz Carolina.

De acordo com a vice-coordenadora do Meninas na Ciência e uma das criadoras do projeto, Daniela Borges Pavani, é necessário discutir nas escola e nas universidades o porquê da baixa representatividade de mulheres na ciência e do desinteresse de meninas em idade escolar pelas carreiras na área. “A iniciativa teve, desde o início, uma forte preocupação em ‘como chegar’ de forma mais ampla às meninas e jovens, independentemente do contato direto de nossas ações. É nesta perspectiva que o projeto já foi montado tendo com uma das ações principais o programa Lugar de Mulher”, explica Daniela.

Daniela é graduada e mestre em física, além de ser doutora em Ciências, títulos obtidos junto à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2007). Atualmente, é professora adjunta do Departamento de Astronomia do Instituto de Física da UFRGS.

Para ter mais contato com o público-alvo e a sociedade em geral, Daniela criou o programa Lugar de Mulher, com transmissão a cabo e pela internet, para despertar o interesse de jovens por carreiras ligadas à C&T. A professora e mais quatro colegas da área começaram a produzir vídeos motivacionais, que estão disponíveis no Youtube. O conteúdo é composto de depoimentos destacando a realização profissional de mulheres nos campos de C&T (para acessar o canal, clique aqui).

Para Carolina, o projeto sintetiza um novo momento para a história das mulheres na ciência e na tecnologia brasileiras. “Nós acreditamos que a C&T precisam de mais mulheres porque o Brasil demanda, crescentemente, mais pessoas nas áreas de ciência e engenharia. A inserção de mulheres nessas áreas aumenta a competição, e, consequentemente, o nível da ciência e da tecnologia do Brasil. Além disso, amplia o debate de mulheres na ciência, significando também pensar em uma ciência diferente, uma ciência inspirada e renovada por experiências de vida historicamente excluídas da produção científica e tecnológica”, almeja a coordenadora.

Conheça o site do projeto Meninas na Ciência clicando aqui.

Texto: Comunicação Social da DRI/Ibict

Foto: Divulgação

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