Confira entrevista com Piero Venturi, da Delegação da UE no Brasil

jan 12 • Notícias • 2012 Views • Comentários desativados em Confira entrevista com Piero Venturi, da Delegação da UE no Brasil

Em entrevista ao site da Divisão de Relações internacionais do IBICT, Piero Venturi, chefe do Setor de Ciência, Tecnologia e Inovação da União Europeia (UE) no Brasil, apresentou detalhes sobre o Programa Europeu de Apoio à Pesquisa e Inovação, o Horizonte 2020.

Antes de atuar no Brasil, Piero Venturi trabalhou como scientific officer na Direção de Pesquisa e Inovação da União Europeia. Engenheiro agrônomo e especialista na área de bioeconomia, Venturi dedicou-se como pesquisador e professor em universidades na Europa, além de possuir larga experiência em cooperação internacional.

Confira a entrevista:

Como o senhor descreve o cenário atual da cooperação internacional em CT&I entre a União Europeia e o Brasil?

A União Europeia tem um acordo de cooperação com o Brasil de muitos anos. Há com as autoridades brasileiras um acordo para ter um comitê diretivo conjunto cada ano. Trata-se de uma possibilidade de falar conjuntamente das oportunidades de cooperação e das ações conjuntas que podemos agendar para fortalecer a cooperação. Temos áreas de interesse conjunto para os dois países. Basicamente, essas áreas são a energia, a bioeconomia, a agricultura, e as ciências do mar.

Juntamente, organizamos atividades, que podem ser mais em nível político, como organização de editais conjuntos, ou atividades mais simples, mas igualmente importantes para a comunidade científica brasileira e a comunidade científica europeia, como a troca de informações, intercâmbio de pesquisadores, ou organização dos eventos nas áreas específicas que escolhemos conjuntamente.

Depois temos áreas também como a de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), que está bem desenvolvida, e na qual a cooperação é muito boa. Até agora houve três editais conjuntos. Para isso, organizamos eventos nos quais podemos apresentar atividades da União Europeia e também o Horizonte 2020 em universidades nos diferentes estados brasileiros. Precisamos trabalhar em nível federal e estatal. Claramente, o Brasil é um país muito grande e heterogêneo e precisamos entrar em contato com todas as diferentes realidades. Para que tal fato possa acontecer é preciso trabalhar também com os pesquisadores.

O que é o Programa-Quadro, em que contexto ele se encontra e como os pesquisadores podem participar?

O novo Programa-Quadro começou no começo de 2014 e tem como nome Horizonte 2020. É o maior programa de pesquisa e inovação do mundo, com um orçamento total de 80 bilhões de euros para sete anos e com um objetivo muito ambicioso. Queremos fazer pesquisa e, igualmente, fortalecer a inovação. Isso significa que a gente quer que os resultados das nossas pesquisas cheguem diretamente ao mercado pela sociedade. O problema que inicialmente ocorreu nos programas passados é que todos os resultados ficavam nas publicações científicas, nos bancos da pesquisa. Agora, temos a necessidade de que todos os desafios sociais possam encontrar globalmente uma solução com a nossa pesquisa.

O programa é totalmente aberto para a participação de parceiros de todo o mundo. Há, basicamente, três pilares essenciais. O conhecimento – alto nível de conhecimento científico, depois os desafios sociais, e a liderança industrial. O foco dos três setores é diferente. No primeiro, precisamos fortalecer e melhorar a qualidade dos pesquisadores que trabalham na Europa e no mundo. Para isso, deve haver infraestruturas de alto nível para que a Europa seja um lugar atrativo para todos os pesquisadores. A liderança industrial tem como objetivo fortalecer a Europa e criar uma situação propícia para todos os setores mais interessantes – estamos falando de nanotecnologia, biotecnologia e as TICs, para desenvolver atividades na Europa.

Depois temos os desafios sociais, que são os desafios sociais para a Europa igualmente para todo mundo e os quais as nossas sociedades têm que enfrentar. Basicamente, englobam questões de energia, saúde, transportes, bioeconomia, mudança climática, e também o impacto sobre a sociedade das nossas atividades.

Como tem sido a participação brasileira no Programa-Quadro?

A participação brasileira para o FP7, o programa de pesquisa anterior, foi seguramente um caso de sucesso. A comunidade científica brasileira está interessada em conhecer e trabalhar com a comunidade científica europeia. Depois também temos casos de sucesso específicos, com bons resultados.

O programa está aberto para todos. Estamos, juntamente com as instituições brasileiras, trabalhando para buscar temas nos quais possamos especificamente trabalhar. Tecnicamente, chamamos esses instrumentos de editais conjuntos, ou chamadas conjuntas, das quais os parceiros brasileiros podem participar dos projetos com parceiros europeus, sendo os parceiros brasileiros com financiamento brasileiro e os parceiros europeus com financiamento europeu. As instituições brasileiras, junto com as instituições europeias, escolhem as áreas de interesse conjunto nos quais os pesquisadores podem trabalhar.

Em sua opinião, o que é necessário para que essa cooperação seja ampliada?

No cenário internacional, o Brasil hoje é um potencial parceiro porque há áreas de conhecimento que têm o nível científico muito alto. Eu falo, por exemplo, das áreas de saúde, bioeconomia e bioenergia, nas quais os parceiros brasileiros podem cooperar com os parceiros internacionais no mesmo nível. Para isso, é importante fortalecer a comunicação e a cooperação para os parceiros brasileiros e para os europeus. O intercâmbio e a troca de informações são essenciais.

A cooperação pode ser ampliada em dois níveis. No nível mais político, cada país tem o seu programa. Um dos problemas é que a UE tem prioridades que podem ser diferentes das brasileiras, o que não facilita a cooperação. Precisamos trabalhar mais sobre aspectos práticos, aspectos técnicos. Claramente, há uma maior flexibilidade de parte européia e de parte brasileira seria bem-vinda também.

Há uma cooperação que chamamos de bottom-up – a cooperação que nasce com os contatos entre pesquisadores brasileiros e pesquisadores europeus. Uma cooperação tipicamente científica, na qual informações e dados são trocados, há trabalho conjunto, e visitas curtas na Europa ou no Brasil. Precisamos de programas para cooperar na pesquisa conjuntamente, programas com projetos maiores. Também temos programas para pesquisadores que individualmente querem cooperar com outros países. Essa também é uma oportunidade que temos que utilizar para cooperar mais conjuntamente.

É preciso também utilizar possibilidades que os estados brasileiros oferecem. Por exemplo, temos as fundações de cada estado brasileiro, que têm um orçamento importante para fortalecer a cooperação. Infelizmente, não podemos ter acordos que não sejam federais. Isso significa que temos dificuldade de ter contatos oficiais com as fundações dos estados. Entretanto, podemos cooperar informalmente com as fundações.

Hoje, temos um problema também em comparação com o programa anterior: o Brasil e os estados mais emergentes em nível mundial, como a China, a Índia e a Rússia, não têm financiamento automático participando do Horizonte 2020. Desse modo, para participar do programa, os parceiros brasileiros têm diferentes oportunidades. Eles podem autofinanciar a participação. Isso pode acontecer, por exemplo, com as indústrias, que têm um interesse específico para participar dos programas. Ou igualmente podemos ter as fundações ou instituições estatais ou federais, que financiam autonomamente as atividades dos pesquisadores brasileiros. Depois temos outro nível, que é mais complicado, um acordo em nível federal, entre as instituições brasileiras e as instituições europeias para que os atores brasileiros do programa sejam financiados de parte das instituições brasileiras.

Como vê o papel da cooperação internacional em CT&I para a resolução de problemas globais, a exemplo das mudanças climáticas e da fome?

Seguramente, a ciência tem um papel essencial para isso. É sempre bom reforçar a importância da ciência e da diplomacia da ciência. A ciência é uma oportunidade para que países diferentes, com visões políticas diferentes, possam cooperar. Falamos em Bruxelas da ciência como icebreaker. Igualmente, temos a possibilidade utilizar a ciência para fortalecer cooperações em outros setores.

A ciência também deve voltar-se para os desafios importantes, como a saúde e as mudanças climáticas, algo que pode ter mais significado quando trabalhado multilateralmente. Isso significa que temos que cooperar com os outros países para solucionar problemas. Para fazer isso, a União Europeia trabalha com as diversas organizações internacionais, cooperando ativamente com os outros países. A cooperação para enfrentar esses desafios é importante porque os pesquisadores podem trabalhar conjuntamente, criar mais sinergias, poupar financiamentos, e serem mais efetivos. Por exemplo, estamos trabalhando nos temas de saúde com vários países mundialmente. Isso também pode ser um problema bilateral, mas deve ser trabalhado multilateralmente. Muitos países ficam chateados porque a Europa não quer cooperar bilateralmente: a Europa quer cooperar multilateralmente, objetivando o futuro global.

Qual a relevância da informação para as ações de cooperação internacional em CT&I? Como vê a iniciativa do Cint/Ibict com um portal de cooperação internacional?

As atividades de informação para os pesquisadores e a comunidade científica brasileira são essenciais. Eles precisam de informações e conhecimento sobre o que está acontecendo na Europa. Nesse sentido, o trabalho do Ibict é extremamente importante. É um trabalho que deve ser feito cooperando com outros websites que trabalham na mesma direção. Para isso é muito importante um intercâmbio de informações para alcançar todos os setores e áreas também geográficas do país. A gente também está trabalhando conjuntamente com Bruxelas para adaptar todas as informações que chegam da Europa sobre o Horizonte 2020 para a realidade brasileira.

A entrevista com Piero Venturi também está disponível em vídeo (em versão editada). Para acessá-la, clique aqui (via Youtube).

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